Prós e Contras: o que sabemos?
__Trata-se, aqui, de uma avaliação
econômico-contábil__
Antes me identifico. Chamo-me Cláudio
Rangel: moro em Niterói; sou Arte Educador (Unilasalle-RJ);
Bacharel em Direito (UFF), com pós-graduação em
Teoria Jurídica e Práticas Sociais (UFRJ);
com Aperfeiçoamento em Antropologia Social (CNPq); Engenharia de Produção (UFRJ); perito em Escrituração Fiscal (Serviço Nacional do Comércio). Atualmente, sou graduando em Administração de Empresas e em Licenciatura
Plena em História, ambas na Unilasalle-RJ. Mas, isto não quer dizer nada. O
importante, aqui, para esclarecimentos, é que sou cristão, e Católico –
portanto, tenho um compromisso com a Verdade -, e devo informar pontos positivos e negativos de um
evento, que eu sou inequivocamente favorável, mesmo que isto signifique
desqualificá-lo. O julgamento caberá aos leitores. Mas, devo apresentar os
dados concretos que possuo, pois esta é minha formação e obrigação.
Preliminarmente, também, é preciso
informar que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) será o evento mais
complexo do Rio, representando um desafio maior do que a Copa e a Olimpíada,
segundo o próprio Presidente da Rio Eventos (confira, aqui).
CONTRA
O seguinte cartaz está circulando na internet:
O que é verdade?
Os "cofres públicos" - ou
seja, recursos do Governo - estão realmente sendo usados para a realização de
um evento de natureza religiosa na Cidade do Rio de Janeiro. E o Estado
brasileiro é laico. Portanto, assiste razão aos que dizem que, por ser o Estado
brasileiro laico, não deveria dispor recursos em eventos religiosos. Mas, em primeiro lugar, o
"quantum" está incorreto.
Na verdade, o montante dispendido é MAIOR do que o panfleto acima insinua, e envolve as três
esferas de governo: União, Estado, e Município. Somente a União - o maior
aporte - tem previsão de gasto de R$ 111,5 milhões e os governos do Rio (Estado
e Município) - não informaram ainda com precisão - estima-se em mais de R 30
milhões. Confira aqui.
O que
representam estes gastos?
São de ordem diversa. Referem-se a
gastos com:
a) SEGURANÇA PÚBLICA, como qualquer
grande evento - inclusive as manifestações que assolam o país, no momento. São
esperados mais de 2 milhões de peregrinos. Isto é obrigação do Estado, em qualquer evento da espécie. Não é, como se alardeia, dinheiro destinado a um "evento privado". Tratando-se, ainda, da presença de Chefe de Estado, o Papa, é obrigação diplomática calcada em Direito Internacional. Dos 111,5 milhões da União, citado acima, mais de 70 milhões serão destinados somente a estas ações de segurança referente às forças armadas (confira aqui). (Para se ter uma ideia, a visita do Presidente Obama, em 2011, custou R$ 120 milhões POR DIA). O Vaticano não tem culpa se quando a Presidente Dilma vai lá, a segurança que o Vaticano oferece é o da Guarda Suíça, a mesma do Papa, que é muito mais barata. E o Vaticano só tem 0,44 km².
b) aparelhagem e melhoria no que concerna aos serviços públicos infraestruturais onde ocorrerão os encontros por toda a cidade - como em Guaratiba, onde está sendo preparado o
chamado "Campus Fidei"
(no terreno acima), e feitas melhorias na localidade do entorno, como asfaltamento das
ruas, etc.
c) utilização dos SERVIÇOS
PÚBLICOS DE SAÚDE, que está sob fiscalização do Ministério
Público, no momento. [ Confira o link anterior, e este artigo Justiça dá Prazo para Prefeitura explicar Licitação. E o próprio processo no Tribunal de Justiça do ERJ, já com decisão, onde se lê "“É inafastável registrar que o acontecimento não se restringe a peregrinos estrangeiros, sendo muitos brasileiros, cariocas, idosos, jovens ou crianças, contribuintes do serviço público, não se podendo atribuir a tal evento a natureza exclusivamente privada. A Jornada Mundial da Juventude, além de prioritariamente congregar pessoas, dá visibilidade ao Brasil, incrementa empregos e estimula a economia”].
d) e outras indispensáveis, como a
ocupação do CORPO DE BOMBEIROS, a LIMPEZA URBANA, ENERGIA, TRANSPORTE, etc.
Enfim, toda a infraestrutura da
Cidade do Rio de Janeiro, aplicada quando se realizam grandes eventos - como o Carnaval, o Rock in Rio, ou uma Parada GAY -, estarão
disponíveis, também, para a Jornada Mundial da Juventude, devido a sua
complexidade e grandeza. Mas é importante que se diga que o próprio Prefeito Eduardo Paes confessou publicamente que quem paga pela Jornada Mundial da Juventude é a Igreja Católica (confira aqui).
Todos os gastos, entretanto, dispendidos pela Prefeitura - ou pelo Estado e União - dentro da competência de cada um, devem ser apreciados e julgados sua lisura por Tribunal de Contas. O que podemos questionar é se o mesmo fará isto corretamente e aplicará a lei ao caso, se houver desvio.
O nosso
Estado é laico.
Correto. Mas também são laicos os estados onde foram realizados estes eventos, anteriormente, como: Estados Unidos, Canadá, Espanha, Alemanha. Austrália, Argentina, França... (veja aqui a relação completa).
A pergunta que não quer calar é:
Por que estes países aceitaram disponibilizar seus recursos públicos para uma JMJ, sabendo-se que não se admitiria neles, jamais, aplicar tais recursos, a fundo perdido, em um evento religioso?
Antes de mais nada, porque têm OBRIGAÇÃO, como garantidores da ordem e bem-estar público em seus territórios e, se houver visita do Papa, conjuntamente, como dever diplomático. Além disto, que é básico, pelas razões que - aqui especificamente considerado o Brasil, mas que é válido para os demais países citados - veremos a seguir:
A FAVOR (ver NOTAS)
1 - A Jogada Mercadológica
A JMJ é um evento - como a Copa e a
Olimpíada - de repercussão mundial. A imprensa de quase todo mundo cobrirá este
acontecimento colocando em evidência o Brasil, e particularmente, a Cidade do
Rio de Janeiro. Uma publicidade GRATUITA de valor altíssimo, que estimulará
muito o fluxo turístico ao Brasil, só aquilatado a médio e longo prazo,
juntamente com os dois outros eventos citados.
2 - O Lucro esperado da JMJ no Brasil
2.1 - O exemplo de Madri, Espanha.
A PricewaterhouseCoopers, firma de consultoria e auditoria independente, foi contratada para dar um parecer sobre o evento naquela capital espanhola. Muitos protestos, até passeatas, ocorreram em Madri por grupos contrários à JMJ. A PricewaterhouseCoopers apresentou o resultado econômico da realização deste evento, que ocorreu em plena Grande Crise Financeira Global de 2011. O lucro direto computado foi da ordem de € 354 milhões (em Real aproximado, cotação de 10/07/2013, R$ 1 Bilhão e 36 milhões - veja aqui).
Os prognósticos são que o evento no Rio de Janeiro será muito maior.
Particularmente, depois que o Cardeal Bergoglio - um latino-americano,
argentino - foi eleito Papa Francisco. Em termos de peregrinagem só deve ficar
atrás de Manilha (Filipinas) que reuniu 5.200.000 pessoas.
2.2 -
Lucro direto computável previsto.
O
cálculo é simples e qualquer um pode fazer. O custo médio para despesa de um
peregrino gravitará em torno de R$ 1.000,00. Este valor é MÍNIMO SIMBÓLICO, só
para efeitos de cálculo. Sabemos que é muito superior a isto. Somente a taxa de
inscrição no pacote que o peregrino estrangeiro mais utiliza é de R$ 608,00 -
veja aqui os valores dos pacotes.
São 6 dias de presença somente no Rio de Janeiro. É costume dos grupos de
peregrinos, entretanto, em todas as jornadas, fazerem incursões turísticas - e
gastos inevitáveis, em consequência -, na própria cidade e pelo país. O peregrino não ficará, enquanto estiver aqui, de joelhos o tempo inteiro. Passeará, se divertirá e gastará bem. O valor
de R$ 1.000,00, portanto, é uma MÉDIA MÍNIMA "per capita", embora uma
boa parte faça despesas muito maiores. Já participei de jornada no exterior e é
assim. O gasto de um peregrino numa JMJ, por seu perfil, contudo, é um pouco inferior do que o do turista
normal, em viagens ao exterior, pois boa parcela dos peregrinos não dispõe de
muitos recursos. Estes, menos aquinhoados, são amparados pelo trabalho e ajuda
de uma imensa rede de solidariedade e voluntariado.
Não
computamos o valor do trabalho do voluntariado, mas, trata-se de uma atividade
econômica, como qualquer outra, podendo ser dimensionada - é uma "economia
informal" - contudo depende de cálculos complexos seu dimensionamento.
Então
vejamos:
Custo
MÍNIMO "per capita": R$ 1.000,00
Número
ESTIMADO de peregrinos: 2.500.000 (entre estrangeiros e nacionais)
Aritmética
simples: 2.500.000 x R$ 1.000,00 = R$
2.500.000.000
Ou
seja 2 BILHÕES e QUINHENTOS MILHÕES em REAL.
Não foi computado acima os valores que entram - e que, estes sim, fazem parte dos itens que financiam diretamente o evento - mediante:
a) Doações de Pessoas Físicas e Jurídicas: veja aqui.
b) Receita de Utilização da Marca "Coração Peregrino": veja aqui. (estima-se em R$ 500 milhões, como verificaram no clipping da Casa da Moeda)
c) e outros que seria cansativo enumerar.
Estes são recursos próprios da Igreja.
Enfim, o que importa saber é que os gastos DA JORNADA, especificamente, estão sendo custeados pelo próprio Instituto Jornada Mundial da Juventude, através de inúmeras fontes, e NÃO pelo Estado. Este só entra com os requisitos infraestruturais indispensáveis, e de OBRIGAÇÃO do Estado, por lei.
c) e outros que seria cansativo enumerar.
Estes são recursos próprios da Igreja.
Enfim, o que importa saber é que os gastos DA JORNADA, especificamente, estão sendo custeados pelo próprio Instituto Jornada Mundial da Juventude, através de inúmeras fontes, e NÃO pelo Estado. Este só entra com os requisitos infraestruturais indispensáveis, e de OBRIGAÇÃO do Estado, por lei.
2.3 -
Lucro indireto = ???
O
cálculo é complexo e imprevisível para nós, simples mortais. Deixo isto para os
economistas do Ministério da Fazenda, do BACEN e do Ministério do Turismo. E
com você, caro leitor, se for capaz de fazer alguma projeção neste sentido. Mas, posso te garantir, o mais
inepto economista ou administrador vai te informar, certamente, que o montante
do "lucro indireto" deste evento supera em muito o montante do
"lucro direto" aqui computado. Coloco, apenas, um valor MÍNIMO
SIMBÓLICO: R$ 1.500.000,00.
Do
exposto, posso afirmar que a injeção de capital proporcionado em virtude da
realização da Jornada Mundial de Juventude, no Brasil, será NO MÍNIMO da ordem
de:
R$
4.000.000.000 - Ou seja, R$ 4 BILHÕES.
Daí eu ter feito uma piadinha com base no factoide que está circulando pelas redes sociais, e apresentado no início deste estudo:
Aqui, aparece a "outra pergunta que não quer calar": o que o Estado fará quando se apropriar desta riqueza? Vem-me à mente uma palavrinha "mágica": CORRUPÇÃO! O flagelo deste país.
3 - Uma exposição milionária.
Antes de encerrar este opúsculo despretencioso, devo informar sobre a Exposição “A Herança do Sagrado: Obras-primas do Vaticano e de museus italianos", que transcorre no MNBA. Uma realização do Pontifício Conselho para os Leigos, do Comitê Local da JMJ (COL), da Fundação João Paulo II. Apesar do alto custo desta exposição, inédita na América Latina (alguns milhões de dólares), ela foi doada ao povo brasileiro, a fundo perdido. Como calcular, em valor econômico, os benefícios sócio-educativos de algo deste tipo?
Bem, isto é o que eu sei. O resto é com você. Julgue se é bom ou ruim, para o Brasil, cujo Estado é laico – assim como todos os outros que receberam este evento -, receber o Papa Francisco para uma Jornada Mundial de Juventude. E se representa, ou não, um benefício imenso para a economia e a população.
De
minha parte, eu só tenho a dizer:
___________
Cláudio Rangel
NOTAS:
1 - Passagens Aéreas por todo o Brasil - Confira Aeroportos terão 700 mil passageiros na JMJ - Tente apurar o valor desta movimentação levando-se em conta, APENAS, o preço MÍNIMO de um bilhete do menor trecho (Rio-São Paulo, por exemplo);
2 - Hotelaria e Serviços (somente no Rio de Janeiro) - Confira Gasto diário durante a JMJ segundo companhias de turismo - Tente apurar o VALOR MÍNIMO TOTAL levando-se em conta que o Rio de Janeiro tem capacidade para 67.000 leitos (confira aqui) e considerando-se que a ocupação da rede de alto padrão (de 3 a 5 estrelas) já está em 57% (confira aqui), e de albergaria chega a 100% (confira aqui).
A maioria dos peregrinos, entretanto, ficarão em casas de família o que não nos permite efetuar um cálculo simples pois trata-se de uma "economia informal"; desconsidere este valor, portanto, mas sem esquecer de que são previstos 2.500.000 usuários, no mínimo;
3 - Os gastos apurados no item 2 devem ser estendidos a outras cidades brasileiras no que se refere aos peregrinos estrangeiros pois, como é prática neste evento, estes chegam dias antes do início da JMJ, ou permanecem no país até alguns dias depois, realizando atividades turísticas normais;
ENFIM, O PAPA NO BRASIL...