Igreja, Amor e Ódio. (Cláudio
Rangel)
Estive pensando, meditando, esses
dias, sobre uma frase de Fulton Sheen, que gostaria de compartilhar com vocês.
Dizia ele que, referindo-se à América, “existe no máximo uma centena de pessoas
que odeia a Igreja Católica. Entretanto existem milhões de pessoas que odeiam
aquilo que acreditam ser a Igreja Católica – o que é muito diferente”. Assim,
digo eu, estes milhões têm uma “profissão de fé”, só que inconsciente e a
contrário sensu.
Isto foi recentemente, com outras
palavras e contexto, reafirmado pelo Papa Bento XVI, ou seja, de que “um dos
problemas mais graves da nossa época é a ignorância da prática religiosa na
qual vivem muitos homens e mulheres, inclusive alguns fiéis católicos”. (Visita
Ad Limina do Episcopado Francês)
Confesso que amo minha Igreja.
Mas estou longe, muito longe, de conhecer a incomensurável riqueza espiritual
acumulada por minha amada nestes 2.000 anos de história. Não sei nem o be-a-bá.
Se me perguntarem, por exemplo, quais são os 7 dons do Espírito Santo, vou ficar
contando e escorregar. Os 12 frutos,
então... tenho até vergonha de admitir. Ainda bem que Ele não desiste de mim
por não saber declinar todos os seus sobrenomes. Mas é como de se eu fosse
casado a 70 anos e não soubesse responder se a minha esposa prefere o café-da-manhã
puro, ou com leite. Sofro desta ignorância a que referiu Bento XVI. Pois, é
fato, batizado e crismado eu sou. De tal sorte, sou uma espécie de analfabeto
funcional.
Como ter a pretensão, então, de
dar a conhecer, verdadeiramente, a Cristo e a Sua (nossa) Igreja - que é uma
obrigação de todo cristão – para que, uma vez conhecidos, sejam amados? Se nem sei
como é que Cristo e a Igreja tomam o café-da-manhã é uma iniciativa muito
temerária e, provavelmente, fadada ao fracasso. Ou, muito pior, realmente torná-los
odiados, com minha participação, sem que tenham seus algozes conhecimento de
causa. Como apresentar Jesus Cristo se não sei quem Ele é? E se, supondo que eu
seja intelectual superdotado e conheça toda a História da Igreja Católica
Apostólica Romana, na face da Terra, mas não conheço a Cristo, posso jogar a
toalha, porque não saberei o que a Igreja é.
Dizemos isto e aquilo de Jesus de
Nazaré, o Cristo, mas nunca tivemos a menor curiosidade de ler os 4 Evangelhos,
nem superficialmente. Dizemos isto e aquilo da Igreja Católica mas nunca
tivemos a curiosidade de estudar nem 0,001% dos documentos que ela produziu ao
longo de sua história bimilenar. O resultado disto é que a probabilidade de
falarmos estultices é altíssima. Diria que é de 99,9999....%. Se somos “bem”
formados, fazemos parte da “intelligentsia” – historiadores, sociólogos,
filósofos, antropólogos, etc – com mestrados, doutorados, pós-doutorados,
trata-se de uma barbaridade. Do sentido mais radical, etimológico, da palavra “bárbaro”.
Eu preciso conhecer a minha
Igreja. Se não sou capaz de esquadrinhá-la em toda a sua história e ver toda a
beleza que nela há - apesar dos muitos percalços e da fraqueza dos seus filhos
(nós todos) que a cobrem de manchas negras - eu tenho que, pelo menos, ser
dócil ao Espírito Santo, como uma criança, desprovido de armaduras intelectuais.
Quem sabe assim, recebendo seus dons e frutos, gratuitamente - agora lembrei-me
da Fortaleza e da Paciência -, eu seja capaz de ver, ouvir e ler tantas
barbaridades e manter-me fiel. E, ao invés de prestar um desserviço à
humanidade, ajudar a edificar um mundo melhor.
Tenho muito que rezar ao meu bom
Deus. Pois, como alertou o Papa Francisco em sua Primeira
Homilia, com a coragem e a autoridade de quem conhece o mundo, o Cristo e a
Igreja, citando Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”.
Dá-me Senhor a Graça de permanecer
ao Teu lado, sob qualquer circunstância. Guardai-me e guiai-me, Mãe Santíssima,
nos caminhos sinuosos e traiçoeiros deste mundo e, assim, quem sabe um dia, eu
possa viver o Novo Mandamento que seu Divino Filho nos legou:
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos amei”. (Jo 15:12)
Post-scriptum: Desculpem as minhas faltas.
Bem, como penitência,
volto ao Catecismo
da Igreja Católica, e nele leio:
1830. A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do
Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil aos
impulsos do Espírito Santo.
1831. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria,
entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Pertencem
em plenitude a Cristo, filho de David (84). Completam e levam à perfeição as
virtudes de quem os recebe. Tornam os fiéis dóceis, na obediência pronta, às
inspirações divinas.
«Que o
vosso espírito de bondade me conduza pelo caminho recto» (Sl 143, 10). «Todos aqueles que são
conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus [...]; se somos filhos,
também somos herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo»(Rm 8, 14.17).
1832. Os frutos do Espírito são perfeições que o
Espírito Santo forma em nós, como primícias da glória eterna. A tradição da
Igreja enumera doze: «caridade, alegria, paz, paciência, bondade,
longanimidade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência,
castidade» (Gl 5, 22-23
segundo a Vulgata)
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