sexta-feira, 15 de março de 2013

Igreja, Amor e Ódio. (Cláudio Rangel)



Igreja, Amor e Ódio.  (Cláudio Rangel)

Estive pensando, meditando, esses dias, sobre uma frase de Fulton Sheen, que gostaria de compartilhar com vocês. Dizia ele que, referindo-se à América, “existe no máximo uma centena de pessoas que odeia a Igreja Católica. Entretanto existem milhões de pessoas que odeiam aquilo que acreditam ser a Igreja Católica – o que é muito diferente”. Assim, digo eu, estes milhões têm uma “profissão de fé”, só que inconsciente e a contrário sensu.

Isto foi recentemente, com outras palavras e contexto, reafirmado pelo Papa Bento XVI, ou seja, de que “um dos problemas mais graves da nossa época é a ignorância da prática religiosa na qual vivem muitos homens e mulheres, inclusive alguns fiéis católicos”. (Visita Ad Limina do Episcopado Francês)

Confesso que amo minha Igreja. Mas estou longe, muito longe, de conhecer a incomensurável riqueza espiritual acumulada por minha amada nestes 2.000 anos de história. Não sei nem o be-a-bá. Se me perguntarem, por exemplo, quais são os 7 dons do Espírito Santo, vou ficar contando e escorregar.  Os 12 frutos, então... tenho até vergonha de admitir. Ainda bem que Ele não desiste de mim por não saber declinar todos os seus sobrenomes. Mas é como de se eu fosse casado a 70 anos e não soubesse responder se a minha esposa prefere o café-da-manhã puro, ou com leite. Sofro desta ignorância a que referiu Bento XVI. Pois, é fato, batizado e crismado eu sou. De tal sorte, sou uma espécie de analfabeto funcional.

Como ter a pretensão, então, de dar a conhecer, verdadeiramente, a Cristo e a Sua (nossa) Igreja - que é uma obrigação de todo cristão – para que, uma vez conhecidos, sejam amados? Se nem sei como é que Cristo e a Igreja tomam o café-da-manhã é uma iniciativa muito temerária e, provavelmente, fadada ao fracasso. Ou, muito pior, realmente torná-los odiados, com minha participação, sem que tenham seus algozes conhecimento de causa. Como apresentar Jesus Cristo se não sei quem Ele é? E se, supondo que eu seja intelectual superdotado e conheça toda a História da Igreja Católica Apostólica Romana, na face da Terra, mas não conheço a Cristo, posso jogar a toalha, porque não saberei o que a Igreja é.   

Dizemos isto e aquilo de Jesus de Nazaré, o Cristo, mas nunca tivemos a menor curiosidade de ler os 4 Evangelhos, nem superficialmente. Dizemos isto e aquilo da Igreja Católica mas nunca tivemos a curiosidade de estudar nem 0,001% dos documentos que ela produziu ao longo de sua história bimilenar. O resultado disto é que a probabilidade de falarmos estultices é altíssima. Diria que é de 99,9999....%. Se somos “bem” formados, fazemos parte da “intelligentsia” – historiadores, sociólogos, filósofos, antropólogos, etc – com mestrados, doutorados, pós-doutorados, trata-se de uma barbaridade. Do sentido mais radical, etimológico, da palavra “bárbaro”.

Eu preciso conhecer a minha Igreja. Se não sou capaz de esquadrinhá-la em toda a sua história e ver toda a beleza que nela há - apesar dos muitos percalços e da fraqueza dos seus filhos (nós todos) que a cobrem de manchas negras - eu tenho que, pelo menos, ser dócil ao Espírito Santo, como uma criança, desprovido de armaduras intelectuais. Quem sabe assim, recebendo seus dons e frutos, gratuitamente - agora lembrei-me da Fortaleza e da Paciência -, eu seja capaz de ver, ouvir e ler tantas barbaridades e manter-me fiel. E, ao invés de prestar um desserviço à humanidade, ajudar a edificar um mundo melhor.

Tenho muito que rezar ao meu bom Deus. Pois, como alertou o Papa Francisco em sua Primeira Homilia, com a coragem e a autoridade de quem conhece o mundo, o Cristo e a Igreja, citando Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”.

Dá-me Senhor a Graça de permanecer ao Teu lado, sob qualquer circunstância. Guardai-me e guiai-me, Mãe Santíssima, nos caminhos sinuosos e traiçoeiros deste mundo e, assim, quem sabe um dia, eu possa viver o Novo Mandamento que seu Divino Filho nos legou:

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. (Jo 15:12)





Post-scriptum: Desculpem as minhas faltas.
Bem, como penitência, volto ao Catecismo da Igreja Católica, e nele leio:

III. Os dons e os frutos do Espírito Santo
1830. A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo.
1831. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Pertencem em plenitude a Cristo, filho de David (84). Completam e levam à perfeição as virtudes de quem os recebe. Tornam os fiéis dóceis, na obediência pronta, às inspirações divinas.
«Que o vosso espírito de bondade me conduza pelo caminho recto» (Sl 143, 10). «Todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus [...]; se somos filhos, também somos herdeiros: herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo»(Rm 8, 14.17).
1832. Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós, como primícias da glória eterna. A tradição da Igreja enumera doze: «caridade, alegria, paz, paciência, bondade, longanimidade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade» (Gl 5, 22-23 segundo a Vulgata)


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